terça-feira, 29 de junho de 2010

O HOMEM VÊ FUTEBOL PELO OLHO DO --?

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UM BURRO TIROU O HUGO ALMEIDA
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Portugal jogou taco a taco, e jogou bem até aos 17 minutos da segunda parte. Nessa altura, um asno, que dá pelo nome de seleccionador nacional, resolveu tirar um dos melhores jogadores em campo e matou a equipa. Logo a seguir a Espanha marcou, e a equipa Portuguesa virá para casa sem honra nem glória.

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domingo, 27 de junho de 2010

O MEU S. JOÃO

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O MEU S. JOÃO
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Depois de ler o artigo do Fernando Moreira de Sá, vieram-me as lembranças de quando ainda ia passar a noite pelo Porto dentro, na sempre magnífica noite de S. João.
Sempre gostei de o fazer, embora hoje, se calhar devido à idade, me deixe ficar por casa, ouvindo ao longe os barulhos das músicas e dos foguetes e dos irritantes martelos.
Mas gostar, gostar, gostava do S.João no tempo em que não havia martelos, em que o rei e a rainha eram o alho pôrro e a cidreira, em que se saltava a fogueira e se ia dançar nos bailaricos espalhados pelos bairros da cidade (adorava ir a um que ficava entre-prédios perto do Prado do Repouso), em que as roulottes eram escassas e o barulho (hoje estridente) das músicas pouco se fazia sentir.
Adorava o S.João no tempo em que o fogo era "deitado" no S. Pedro, em que as Fontaínhas eram o fulcro da festa, com milhares a irem a passo de caracol, compactados, por Santa Catarina e Batalha, em que as rusgas eram constantes e se acabava a noite a dormitar na praia do Homem do Leme, sem demasiadas bebedeiras, com muito gozo e sem droga.
Adorava o S.João, adoro-o (a vépera de S.João tem um significado especial para mim) e se hoje ainda fosse dia 23 e a noite ainda estivesse para vir, bem que iria dar um salto à baixa, tentar reviver esses tempos. Como não é, vou de qualquer modo, a exemplo do FMSá, visitar a festa nas Fontaínhas, num dia já mais calmo.
Há imensas razões para se adorar esta cidade, como por exemplo o haver tantos filhos do S.João. Esta é só mais uma delas.

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

SCUTS, CHIPS, PSD E PS

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PARA JÁ, A LEI FOI REVOGADA
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Pois, mas isto não fica por aqui, e dentro de dias pode ser que o partido do governo e o do senhor Pedro, cheguem a acordo. E se chegarem, ambos perderão votos a Norte.
Para se ser sério, e no caso de ter de ser (o passar a pagar portagem), essa cobrança só deverá e poderá ser implementada quando em todo o País, isso acontecer. No mesmo dia, na mesma hora. Todos de uma só vez.
Mas na sua esperteza saloia, o governo já nos foi dizendo que apesar da ser ter sido revogada, teremos de pagar na mesma a partir de 1 de Julho.
Eles são uns pândegos e nós é que nos lixamos.
A revolta está próxima, estejamos preparados!

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UM NOVO BLOGUE PARA LER COM ATENÇÃO

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SOUBE HOJE
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Que nasceu um novo Blogue.
Não é mais um, é UM a ter como referência.
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Vão ver, chama-se LIBERATURA
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Desejo aos seus autores o maior êxito nesta aventura.
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quarta-feira, 23 de junho de 2010

ANDE SEMPRE COM A SUA CABECINHA ERGUIDA


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O IMPORTANTE
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Não nos importem as dificuldades que este governo nos impõe.
Não nos interesse o quanto o fisco nos tenha depenado.
Não nos preocupemos com a fome e o desemprego que grassa no nosso País.
Não nos importe o sexo que o governo quer fazer connosco.
Mantenhamos a nossa auto-estima acima de tudo.
E tudo isto porque:
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O importante é andar com a cabeça bem erguida.

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Também no Aventar
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terça-feira, 22 de junho de 2010

OH, CARAGO, TEMOS LÍDER! - A LEI DOS CHIPS

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Até que enfim, Dr Rui Rio, até que enfim que o ouço a defender a sério as gentes do Norte.

Ao ouvi-lo, fiquei com a impressão de que o nosso líder chegou por fim.

Só espero vê-lo na linha da frente da defesa dos nossos direitos e à nossa frente, comandando-nos, na nossa anunciada revolta, mesmo que o seu partido se entenda com o ainda nosso Primeiro e acabe por não votar favoravelmente a revogação da Lei dos Chips.


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No Aventar


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segunda-feira, 21 de junho de 2010

7개 0

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Fiz um interregno nas minhas preocupações e fui ver o jogo na televisão.

Neste meu interregno resolvi escrever sobre ele (o jogo).

Escrever pouco, para não cansar quem me quiser ler.

Assim:

1º tempo

Chuva e frio

Muita gente a apoiar Portugal.

O barulho da porcaria das vovuzelas não pára, e há quem traga protecções para os ouvidos.

Bola na trave/poste deles com remate de Raúl Meireles.

Bom jogo o nosso.

Golo de Raúl Meireles aos 29 minutos.

Amarelo para P Mendes.

Intervalo

Mais ataques, mais cantos e mais tudo da parte dos Portugueses.

2º tempo

Continua a chover.

Os mesmos jogadores , sem quaisquer substituições, que surgirão mais tarde.

Entramos em força.

Ronaldo continua em branco, não marca nem por nada. Tem azar.

As cornetas não param.

2-0 por Simão aos 8m, e a partir daqui, tudo foi diferente.

3-0 por Hugo Almeida aos 10m.

4-0 por Tiago antes dos 15m (60m).

Jogamos de caraças. Uma das melhores exibições de entre todas as deste mundial. Jogo bonito.

A Coreia sem agressividade e com muitas dificuldades. A Coreia é uma equipa frágil.

As oportunidades sucedem-se para os Portugueses.

Amarelo estúpido a Hugo Almeida.

Bola à trave, de Ronaldo. O homem não consegue marcar.

Hoje é fácil elogiar a equipa Portuguesa. Até a nota artística é muito boa. Regressou a esperança. O adversário ajudou, mas todo o mérito é Português. Esta segunda parte, tão melhor que a primeira que já foi boa.

5-0 por Liedson, acabado de entrar.

E Ronaldo…. até que enfim. Marca o 6-0. Tudo enrolado e estranho mas… Até que enfim!

7-0 por Tiago (outra vez) aos 88m.

Espectacular! Tudo parece fácil.

Resultado histórico na cidade do Cabo.

Uma festa Portuguesa, com certeza!

Força Portugal.
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No Aventar
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

O OPEL CORSA, O RÚBEN E A TORRADA DE PÃO DE REGUEIFA - COMO SE FORA UM CONTO

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O OPEL CORSA, O RÚBEN E A TORRADA DE PÃO DE REGUEIFA
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Era ainda de manhã, cedinho, de uma sexta-feira feita para engenheiros de pontes. Ontem, muitos, demasiados, festejaram o dia do meu País como se tudo estivesse bem. À mesa do café onde muitas vezes desjejuo, leio distraído o jornal do dia.
A revista que o acompanha também está por ali, com a sua capa colorida a tentar chamar-me a atenção. Entre uma leitura de títulos da primeira página do jornal e da revista, e uma espreitadela às fotografias que os acompanham, fico sabedor do que mais importante se passou no dia de ontem, ou nos que o antecederam. Aos poucos vou tomando consciência do que é interessante para os Portugueses.
Assim, pedindo desculpas pelo tratamento muito informal que vou dar às pessoas, fiquei a saber que a Sofia e o Nuno, que não conheço mas que leio serem actores, já não namoram um com o outro, e que cada um deles tem já consolo garantido noutras paragens. Que a Isabel, coitada, já nem consegue viver sem o Pedro, personagens que igualmente não conheço mas que aprendi que trabalham como manequins, e que o Tony, este conheço por ser um cançonetista de Carreira, este ano não tem férias. Que o Ronaldo, foi visitar o senhor Mandela e que o senhor Silva quer sacrifícios, desde que explicados e repartidos. Que a festa do futebol começa hoje e que as polémicas do País terminam porque o Vítor, este até eu sei que foi o melhor guarda-redes Português de sempre, acha que o campeonato do mundo de futebol passou a ser o tema central da vida Portuguesa. E ainda, que o nosso Primeiro José contesta as críticas que lhe são feitas e fala dos tempos que correm como sendo de dificuldade generalizada, que um homem foi morto à facada e outro que toda a gente pensava que era mulher foi parar ao hospital por motivos passionais, que milhares de crianças foram passear até Fátima apesar da chuva, que o Vice Constâncio quer sacrifícios no BCE, e que as promoções na vendas de artigos de vestuário começaram já, provocadas pelas quebras na facturação dos comerciantes.
Já nem seria preciso ler mais fosse o que fosse.
Com as primeiras páginas do jornal e da revista, já me poderia sentir esclarecido.
Mas não me senti saciado, e resolvi abrir o diário e continuar a ler.
A par das comemorações do dia de Portugal, das condecorações com que umas quantas sensibilizadas comovidas e agradecidas personalidades foram agraciadas, e dos apupos com que o nosso Primeiro foi brindado, fiquei também a saber que a austeridade chegou à DGS, onde o consumo do papel higiénico, da água e do sabonete tem de ser reduzido, e que a Senhora da Hora, cidade desde há um ano, ainda não sentiu os benefícios dessa elevação. Li sobre os acidentes de viação, que não acabam, seja por culpa dos automobilistas, seja por culpa do estado das estradas (muito embora se saiba que quando as estradas estão más, se deve andar mais devagar). Aprendi que o sapato mais velho do mundo tem cinco mil e quinhentos anos, e que as nossas águas balneares estão muito melhores, e li que o destino é uma bola.
Ora por causa desse destino, resolvi ler as páginas que o diário destinava a esse fenómeno. Nada menos que dez.
Na segunda página deparei-me com uma crónica e decidi-me a lê-la até ao fim. Versava sobre o profissional da bola que foi a correr para a África do Sul, substituir um outro profissional do mesmo ofício que se tinha magoado. Apesar do meu actual interesse pelo assunto, e até por causa disso (normalmente o interesse é quase nulo), percebo muito pouco da profissão do jogo da bola, em especial desta, jogada com os pés e também com a cabeça (literalmente).
O entendido nestas coisas do jogo jogado, escritor cronista, Neto de seu nome, não gosta mesmo nada do substituto. Percebe-se facilmente pelo teor dos escritos. A dada altura, escreve «Olha-se para ele em campo e rapidamente se percebe: ele podia estar em qualquer sítio, que o resultado era o mesmo. Põem-no a médio interior: não compromete. Põem-no a trinco: joga benzinho. Põem-no a lateral-direito: ninguém dá por ele…/. E, no entanto, também nunca se espera o que quer que seja dele. … não falha um passe porque raramente arrisca um passe difícil. Não erra um corte porque normalmente controla o lance à distância. /… - e, se saísse por uns minutos para ir urinar, tenho a certeza que ninguém sentia a sua falta. / … Trocar Nani por Rúben … é o mesmo que trocar uma sequóia por uma acácia, um Maserati por um Opel Corsa…»
Abstraindo-nos dos termos técnicos, como sejam «médio», «trinco», «lateral», «passe», «corte» e «lance», que, acredito, dizem respeito a este tipo de jogo, esta descrição do jogador, caberia direitinha a muitos dos nossos profissionais da política, como por exemplo a maioria dos deputados da Nação. São sempre os mesmos (poucos) a intervir, a trabalhar, a mostrar serviço feito, enquanto todos os outros só servem mesmo para fazer número, e para, durante quatro anos, aumentarem as despesas da Assembleia e encherem os respectivos bolsos de euros que tanta falta nos fazem.
Essa mesma descrição serviria também, como uma luva, para descrever muitos dos trabalhadores das nossas empresas públicas, bem assim como de muitas privadas, que, quase nada trabalhando, não erram, e não errando, são considerados bons funcionários pelos seus chefes, e por isso são promovidos.
Ao pensar nisto, a vontade de continuar a ler as notícias, sempre iguais, que todos os dias aparecem, desapareceu, e entretive-me a degustar a minha torrada de pão de regueifa, e o meu sumo de laranja acabado de espremer.
Sempre valeu mais a pena.
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No Aventar

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ORGULHO DE SE SER PORTUGUÊS

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COMO SE FORA UM CONTO - A SRª MARIA, O SR MANUEL, E O ORGULHO DE SE SER PORTUGUÊS

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A srª Maria e o sr Manuel casaram-se em 2008 entre o Natal e o Ano-Novo. Para ela o primeiro casamento, tardio, pois que quase na casa dos cinquenta anos. Para ele uma repetição.

A srª Maria tem formação em economia e é CEO de um banco, e o sr Manuel foi Ministro das Finanças e é uma pessoa muito importante num partido político, ambos da África do Sul.

A srª Maria é uma das mulheres mais influentes do Mundo, segundo uma revista importante, a Fortune. Diz-se por lá até, que é a nona mulher mais influente do planeta.

Para esta crónica o sr Manuel deixa aqui de ter interesse. Não é Português nem nasceu em Portugal. É uma pessoa que não nos diz nada seja a que título for. As suas relações sanguíneas e familiares com o nosso País, são nulas. Só foi aqui falado pelo peculiar nome, que faria lembrar um qualquer ancestral lusitano, e pelo seu casamento com a srª Maria

Para esta crónica a srª Maria continua a ter interesse. Não é Portuguesa mas nasceu em Portugal, na capital do que um dia foi um Império.

Mas a revista Fortune, diz que a srª é Portuguesa, e terá alguma razão. A srª Maria nasceu como tal, nos idos de 59. Logo depois rumou às Áfricas, as então Portuguesas e aquela onde agora vive. Naquele tempo, muitos foram os Portugueses que, com as suas famílias, se mudaram com armas e bagagens para as nossas ex-colónias.

Pensava eu, até agora, que uma pessoa que nascesse Portuguesa, sempre seria Portuguesa. Mas a srª objecto desta crónica, pensa de maneira diferente. Lá terá as suas razões, e as razões de cada um, são com cada qual. E, convenhamos, ninguém terá seja o que for a ver com isso.

Ora, a srª Maria, em determinada ocasião da sua visa, naturalizou-se Sul-Africana, o que por aí, nenhum mal poderá advir ao mundo. E porque se naturalizou, e porque assim o entende, diz-se Sul-Africana naturalizada, e não Portuguesa, recusando-se inclusivamente a falar das suas origens. Não sei se alguma vez se terá recusado a falar Português, mas isso nem é muito relevante neste momento.

Mas porque falo eu da srª Maria e do seu marido, o sr Manuel?

As razões são simples. Neste fim de semana deu-me para ler uma revista onde, assinado pela srª Pratícia Viegas, se encontrava um artigo sobre esta srª.

Ao tentar ler nas entrelinhas, adivinhei um certo gáudio da jornalista em revelar que tal personagem era Portuguesa, ao mesmo tempo que indicava que o banco do qual é CEO era o principal patrocinador da selecção de futebol Sul-Africana, os Bafana-bafana. Os tais que usam por todo o lado as vuvuzelas, e que nós queremos imitar no campeonato do mundo, usando-as também. Esse gáudio traduzia-se no orgulho de ter mais uma Portuguesa entre as pessoas mais importantes do mundo, muito embora essa Portuguesa estivesse zangada com o seu País.

Mas porquê esse orgulho todo? Teremos, nós Portugueses, necessidade de mendigar algum reconhecimento e importância, publicitando algo que nem sequer é verdadeiramente verdadeiro. Ser-se Português é algo mais que nascer em Portugal. E, pelo artigo publicado na revista do jornal, a srª não se sente Portuguesa, nem quer ser Portuguesa, e assim sendo, deixá-la por lá andar sossegadinha.

Qual a importância que tem para os Portugueses, o saberem da existência de tal srª? Que nos importará que essa mulher, seja assim tão importante? Ninguém a conhece por aqui, e ela não deseja vir a ser reconhecida como nossa compatriota. Até poderia entender um artigo a zurzir na srª, mas … ela é Sul-Africana e o que quer que seja que lhe diga respeito, só terá interesse para os seus concidadãos.

Lamento, mas não tenho qualquer orgulho em saber de uma ex-Portuguesa que, não tendo orgulho em alguma vez o ter sido, esconde as suas origens.

Tal como os chapéus, Portugueses há muitos, espalhados pelos quatro cantos do mundo, uns com mais importância e outros com menos, mas cheios de orgulho da Pátria Portuguesa, sua palerma!


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sábado, 5 de junho de 2010

O DESCALABRO DO J - COMO SE FORA UM CONTO

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O DESCALABRO DO J
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O estrondo, enorme e contínuo, baralha as ideias, impede o pensamento e perturba o imperturbável caminhar das horas e dos dias.

As casas, os prédios e as pontes, caem como baralhos de cartas, lançando a destruição à sua volta. As estradas, as ruas e os caminhos, desaparecem, deixando no seu lugar, uma amálgama de trilhos sem sentido e sem indicação de rumo.

No meio de tanta desgraça, J sente-se perdido. Olha à sua volta e só a devastação e a ruína se encontram à vista. O desespero ameaça tomar conta das suas acções. As soluções não existem, os caminhos não se vêm, a solidão está presente.

Os familiares, mesmo que voltassem com os seus esforços e cheios de boa vontade, não apagariam a tristeza nem acalmariam a desesperança.

J é a imagem personificada do desânimo.

Ao seu lado, não tem companheiros de infortúnio. Ninguém repara no seu sofrimento, ou ao menos se importa. Cada um tem a sua própria dor. E as dores dos outros são sempre privadas.

A solidão que o assalta é avassaladora. Esse isolamento, nos momentos em que mais necessidade se tem de companhia e compreensão, sempre se impõe a tudo e a todos, mesmo quando, ou até apesar de, gritarmos o nosso pesar aos quatro ventos.

A vida perde a razão de ser perante o descalabro eminente. A vontade de acabar com tudo, cresce a cada minuto que passa. J, está perdido.

J, de Jaime, de Joaquim, de José … Podia ser eu, este J …. Podia ser eu! Chato, desconfiado, ora trabalhador, ora desleixado, quezilento, ausente, com filhos espalhados pelo mundo, e amores em cada esquina. Podia ser eu, este J.

Como isso me aflige. Uma vida de trabalho a governar e um final desgovernado. Sem ninguém, sem proventos, sem futuro. Uma vida negra, de um negrume intenso, fatal.

Soube do J há dias. Cinco filhos e outras tantas mulheres. Perdeu o emprego de chefia que tinha, e adoeceu, não sei se por essa ordem. Recentemente o governo cortou-lhe o subsídio de doença. Foi considerado apto para um trabalho que não tem nem tem possibilidade de voltar a ter. Como foi gerente da firma que detinha, também não tem direito ao outro subsídio, o de desemprego. A sete anos de distância de uma reforma de miséria, as perspectivas não são brilhantes. Abandonaram-no, os que viveram dos seus impostos, os que viveram dos seus pagamentos de juros e os que dele sempre tinham dependido, a uma sorte que não procurou, a ele, que toda a vida tinha sido mimado por uns e outros. Essa mesma vida durante a qual tinha mimado os outros com a sua capacidade humana e económica. Filhos, mulheres, amigos de todo o género e espécie, todos, um a um, desapareceram da sua companhia como se ele transportasse peste. Dizem-me que pouco lhe falta para desistir, de tudo, de vez.

Podia ser eu, pensei de novo.

Olhei à minha volta. Livros, computadores, secretárias, cadeiras, fotografias. Estava lá tudo o que é costume estar no meu cantinho.

Aos livros já li quase todos, e a alguns até reli uma e outra vez. A outros, poucos, falta ler. Não tive pachorra na altura em que me chegaram às mãos e depois, nunca mais me lembrei deles. A não ser nestas alturas em que intimamente prometo fazê-lo logo que tenha um pouco de vagar. Tenho alguns desses há mais de um lustre, alguns mesmo há muito mais.

Os computadores, são dois. Um pequeno, portátil, que transporto comigo para todo o lado. É nele que escrevo o que me vem à cabeça. É nele que desabafo as alegrias e as mágoas. É nele que leio as palavras amigas que me mandam pelo novo correio, o electrónico. No outro, o grande, trabalho nas minhas fotografias, descubro os erros que têm e retoco-os, preparo as minhas exposições de imagens, escolhendo as que merecem ser vistas e escondendo as menos boas.

As secretárias e as cadeiras, também duas de cada, onde me sento para escrever em papel. À mão. Adoro escrever com caneta e ás vezes com lápis. Tenho uma letra miúda que por vezes nem eu entendo, mas gosto de escrever, de exercitar a mão, de deixar um testemunho físico da minha passagem por este mundo. Quando posso e o tempo dos dias de hoje me permitem, escrevo cartas, em vez de telefonar, de mandar mensagem via telemóvel ou de enviar escritos por correio electrónico. Sinto-me bem quando recebo uma carta escrita por alguém que me seja próximo, mas cada vez somos menos os que se dedicam a isso.

E as fotografias que me transportam para o passado, sempre presente. Fotografias dos filhos e dos pais e avós e tios e por aí fora. Alguns dos representados nas molduras, mal os conheci, mas lembro-me deles e faço por não deixar de o fazer. – Deve ser triste ficar eternamente esquecido numa moldura à espera do fundo de uma gaveta ou de um caixote cujo destino será, um dia, o lixo. – A outros que por ali estão, não conheci de todo, mas conheço-lhes as histórias e sei dos exemplos que deram e que insisto em tentar seguir.

Enquanto olho à minha volta vou pensando de novo que o J bem que poderia ser eu. Que raio… mas é que podia mesmo… podia sim!

Lembranças, certezas, dúvidas, tudo me assalta. E o J! Soube dele há poucos dias.

Como estará? Qual o valor da vida que ainda transporta, que esquinas dobrará ainda?

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

COMO SE FORA UM CONTO - NÃO HÁ MACHADO QUE CORTE A RAIZ


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NÃO HÁ MACHADO QUE CORTE A RAIZ
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Logo depois da revolução, e numa época de luta geral contra o que estava mal no nosso País, um poeta escreveu que não havia machado que cortasse a raiz ao pensamento. Durante décadas, a luta e o pensamento correram livres. Sucederam-se os governos, as reformas e as lutas, e ao fim de trinta e tal anos chegamos aos dias de hoje.

E, nos dias de hoje, que vamos encontrar de diferente? Que ganhamos nós com a luta, os pensamentos e as reformas, para além de acabarmos por ter um governo como o que actualmente nos desgoverna?

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Podemos falar livremente e por isso podemos ofender e insultar sem que nada de grave nos aconteça.

Podemos roubar livremente, desde que sejam valores obscenamente avultados, que se for um pão ou uma maçã, vamos para a cadeia.

Aos dezasseis anos, uma adolescente pode fazer livremente um aborto, mas não pode decidir colocar um piercing.

Aos dezoito anos um, agora adulto, recebe duzentos euros de subsídio do Estado, podendo assim continuar a não trabalhar, mas um idoso recebe de reforma duzentos e trinta e seis euros depois de uma vida inteira de trabalho.

Os professores são diariamente enxovalhados, insultados, e até sovados pelos alunos, mas o nosso governo desculpabiliza a situação imputando as culpas a causas sociais.

É proibido consumir drogas nas prisões do nosso País, mas são distribuídas todos os dias, seringas para controlar o HIV.

Se um jovem de quatorze anos matar alguém, nada lhe pode acontecer pois não tem idade para ir a tribunal, mas se o mesmo jovem levar uma bofetada do pai por ter roubado dinheiro ou por outra qualquer razão, tal é considerado violência doméstica, e o paizinho pagará por isso.

Se a uma família acontecer uma desgraça e ficar sem casa, tem de se socorrer de amigos ou amizades, se os tiver, ou viver conforme possa, muitas das vezes ao relento ou em bairros de lata, já que o Estado não tem dinheiro para lhe fazer uma nova. Mas se seis energúmenos estiverem presos numa cela que foi inicialmente projectada para quatro deles, sem terem , coitados, quarto de banho privado, a Associação dos Direitos Humanos faz queixa da situação ao Tribunal Europeu.

Se uma criança estiver a trabalhar numa qualquer fábrica antes de ter, oficialmente, idade para tal, isso é considerado exploração do trabalho infantil, passível de prisão, mas se por outro lado o trabalho for, a participação em gravações de telenovelas ou em concursos televisivos, é o talento que está a ser aproveitado, mesmo que trabalhe oito horas por dia, ou mais.

Se precisarmos de uma seringa para ministrar uma injecção, vamos a uma farmácia e pagamos o que nos pedirem, mas, se fossemos drogados, não pagávamos nada.

Se se for homossexual, quereremos e poderemos casar, mas se formos heterossexuais, limitamo-nos a juntar os trapinhos, que a vida não está para brincadeiras.

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Muitos outros exemplos se poderiam dar. Correm diariamente pela internet, textos, a denunciar situações de bradar aos céus, mas como é habitual em nós, nada fazemos, e enquanto nada nos acontecer directamente, olhamos para o lado e assobiamos a disfarçar.

Terá sido para isto, e muito mais do género, que alguns fizeram uma revolução, outros a continuaram, e a quase totalidade apoiou?

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Infelizmente parece que ainda não fizeram um machado que acabe por cortar a raiz à árvore em que nos obrigam a viver.


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terça-feira, 1 de junho de 2010

MAIS UMA EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS



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NOVA EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS EM COIMBRA
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UMA NOVA EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS DE MINHA AUTORIA, ESTÁ PATENTE NO CENTRO DE COIMBRA ATÉ 9 DE JUNHO

EXPOSIÇÃO

“FOTOGRAFIA

E

PALAVRAS”

1 A 9 DE JUNHO 2010

Café Santa Cruz

Praça 8 de Maio

Coimbra



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